sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Despedida de um gênio (Gabriel Garcia Márquez)

Despedida de um gênio

Se por um instante Deus esquecesse de que sou uma marionete
de pano e me presenteasse com mais um pouco de vida,
possivelmente não diria tudo o que penso, mas
definitivamente, pensaria em tudo o que digo.


Daria valor às pequenas coisas, não pelo que valem,
mas sim, pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais; entendendo que por
cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta
segundos de luz.

Andaria quando os demais se detessem, despertaria
quando os demais dormissem.
Escutaria quando os demais falassem, e como iria
saborear um delicioso sorvete de chocolate!

Se Deus me concedesse um pouco mais de vida,
vestir-me-ia simplesmente.

Deitaria de bruços ao sol, deixando descoberto, não
somente mey corpo, senão minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu
horror ao frio, e esperaria que saísse o sol.

Pintaria como em um sonho de Van Gogh, sobre as
estrelas, um poema de Benedetti e uma canção de Serrat.
Seria a serenata que ofereceria à lua.

Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de
seus espinhos e o beijo vermelho de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pouco mais de vida...
Não deixaria passar um só dia sem dizer a toda gente, que as
quero muito.

Gabriel García Márquez

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